STF sepulta inquérito em que Aécio era investigado por morder R$ 21 milhões
Comunicado fúnebre: morreu mais um inquérito contra Aécio Neves. O ex-príncipe do tucanato era acusado na peça de morder R$ 21 milhões da Odebrecht em 2014, ano em que disputou a Presidência da República.
O processo foi sepultado nesta terça-feira no cemitério da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal. Coube ao relator Gilmar Mendes emitir o atestado de óbito. Apontou como causa mortis a ocorrência de “fragilidades probatórias”.
Desceram à cova junto com o inquérito as delações que renderam prêmios judiciais aos corruptores da Odebrecht.
O sepultamento foi testemunhado por outros três ministros. Nunes Marques, endossou a posição de Gilmar, jogando terra em cima da encrenca. Edson Fachin e Ricardo Lewandowski tentaram ressuscitar o inquérito. Mas divergiram quanto ao endereço da UTI.
Fachin queria enviar o processo aos respiradores da primeira instância da Justiça Federal. Lewandowski preferia entubá-lo na Justiça Eleitoral. Na dúvida, prevaleceram os dois votos que optaram por enterrar a investigação viva.
Os crimes do Poder não costumam acabar em castigo. Acima de um certo nível de influência e de renda, nada é tão grave que justifique tamanho desconforto.
No curto intervalo histórico que separou os escândalos do mensalão e do petrolão, teve-se a impressão de que haveria uma revolução carcerária no país. Hoje, sabe-se que o encarceramento de políticos e financiadores eram pontos fora da curva.
Para compreender o fenômeno, é precisa atrasar o relógio em três anos. Às vésperas do julgamento em que o Supremo autorizou a prisão de Lula, em abril de 2018, Gilmar Mendes praticamente antecipou o seu voto contra a tranca: “Ter um ex-presidente da República, um ‘asset’ (ativo) como o Lula, condenado, é muito negativo para o Brasil”, declarou, antes de avisar: “Se alguém torce para prisão de A, precisa lembrar que depois vêm B e C”.
No Brasil, as coisas são mais simples do que muitos imaginam. É simples como o ABC. A, existe Lula, que foi brindado com a anulação das condenações que sujavam sua ficha. Lula é amigo de Lewandowski. B, existe Michel Temer, que já se livrou das denúncias criminais que ralava na época da fala de Gilmar. C, existem Aécio Neves e José Serra, duas biografias sub judice. Temer, Aécio e Serra são amigos de Gilmar.
Na fase em que proliferaram os pontos fora da curva, a Segunda Turma do Supremo fabricava chaves. Trazia os pontos de volta para a curva implementando uma política de celas abertas. Hoje, a turma dedica-se ao ramo funerário. Abre covas em série.
Recentemente, a Segunda Turma enterrou um par de denúncias que importunavam biografias reabilitadas por Bolsonaro. Numa, livrou-se Arthur Lira, que comanda a Câmara e auxilia na distribuição de cargos e verbas destinadas ao centrão. Noutra, Ciro Nogueira, que administra a “alma” do governo na Casa Civil.